Contexto

Em resposta às evidências científicas de que o sistema climático do planeta vem sendo afetado pelo aumento da concentração de gases do efeito estufa (GEE), cuja emissão por atividade antrópica se intensificou principalmente a partir da Revolução Industrial no final do século XIX, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização Metereológica Mundial (OMM) criaram, em 1988, o Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC) para obtenção de dados confiáveis sobre a questão, como subsídio essencial à elaboração de políticas relacionadas a esta problemática (IPCC 2004).

Os efeitos locais das mudanças climáticas terão impacto econômico, social e ambiental muito mais expressivo em países em desenvolvimento, especialmente da América do Sul, por conta das características intrínsecas de suas economias e por conta de sua vulnerabilidade econômica e social.

De acordo com estimativa das Nações Unidas de 2003, a população mundial urbana deve continuar crescendo, numa taxa maior que o crescimento do total da população mundial. Além disso, quase todo o crescimento da população total do mundo entre 2000 e 2030 será absorvido pelas áreas urbanas das regiões menos desenvolvidas. Migrações de áreas rurais para urbanas e a transformação de assentamentos rurais em áreas urbanas serão importantes determinantes do alto crescimento da população urbana nessas regiões (UN 2003).

De acordo com relatório recente de duas organizações mundiais a América Latina e Caribe estão entre as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas. (SAMANIEGO 2009; LA TORRE et al 2009)

Estas pessoas são mais vulneráveis por viverem em áreas de risco, como escarpas ou margens de rios, e tem no trabalho da terra, do gado ou da pesca a fonte de sua sobrevivência. Estes ativos são afetados facilmente com eventos climáticos extremos, colocando esta população mais pobre em exposição à fome e às doenças (SMITH 2007).

De acordo com o Resumo do grupo de trabalho de políticas II, do IPCC (IPCC 2007), os futuros impactos e vulnerabilidade para a América Latina englobam impactos nos ecossistemas naturais, agricultura, recursos hídricos, áreas costeiras, saúde, entre outros.

São 13,9% da população da América Latina (71.5 milhões de pessoas) que não tem acesso a água potável, destes, 63% (45 milhões de pessoas) vivem em áreas rurais (IDB 2004 citado por IPCC 2007). O resumo também nos mostra que foram estimadas 22.2 milhões de pessoas, em 1995, que viviam em bacias que produzem menos do que 1000 metros cúbicos per capita, por ano. O número de pessoas que viverão nestas áreas com o SRES cenário é estimado que chegue a 81 milhões de pessoas em 2020 e 178 milhões de pessoas em 2050, isto sem considerar os movimentos migratórios (Arnell 2004, citado por IPCC 2007).

Em relação à saúde estima-se aumento da malária, dengue, cólera e outras doenças de veiculação hídrica. A malária especialmente é um grande risco, uma vez que 262 milhões de pessoas (31% da população da América Latina) vivem em regiões tropicais e subtropicais, onde o potencial de risco de transmissão é maior (9% na Argentina contra 100% em El Salvador)\ (PAHO 2003, citado por IPCC 2007).

É sabido que a produção de conhecimento sobre as vulnerabilidades do país tem estreita relação com a formulação e implementação de políticas públicas. Ou seja, a estruturação de políticas públicas efetivas de adaptação às mudanças climáticas só acontecerá quando forem elaborados mapeamentos dos pontos críticos da América do Sul e estabelecidos indicadores que orientem as ações necessárias.

1. Intergovernmental Panel on Climate Change [IPCC]. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007. Disponível em [22 jun 2010]

2. LA TORRE, A.; FAJNZYLBER, H.; NASH, J.. Desarrollo con menos carbono: respuestas latinoamericanas al desafio del cambio climatico. sl.: Banco Mundial, 2009. Disponível em [10 set 2009]

3. SAMANIEGO, J. Cambio climático y desarrollo en América Latina y el Caribe: una reseña. Comisión Económica para América Latina y el Caribe: Chile, 2009. Disponível em: http://www.eclac.cl/publicaciones/xml/5/3543
5/28-W-232-Cambio_Climatico-WEB.pdf. Disponível em [10 set 2009]

4. SMITH, M. D. Sólo tenemos un planeta: pobreza, justicia y cambio climático. Lima, Soluciones práticas (ITDG); 2007. Disponível em [10 set 2009]

5. United Nations [UN]. World Urbanization Prospects: The 2003 Revision. United Nations:New York; 2004. Disponível em
http://www.un.org/esa/population/publications/wup2003/WUP2003.htm; [22 jun 2010]